MEDICALIZAÇÃO NA INFÂNCIA

MEDICALIZAÇÃO NA INFÂNCIA

terça-feira, 16 de março de 2010

Medicalização na infância - Gislaine

11/07/2009 - 21:32
A Medicalização da Infância
Gostaria de levantar algumas questões acerca do crescente número de crianças medicalizadas. O que está em jogo quando uma criança não consegue ficar quieta, quando sua atenção e concentração estão desviantes, quando ela põe-se a transgredir? Será que todo sintoma na criança é passível de ser dosado através de medicamento? Será que podemos esperar dos medicamentos um alívio para a angústia nas crianças? Ou podemos avançar e questionar-mos acerca das causas de um sintoma e do fato que a condição de criança está irremediavelmente ligada à dependência aos pais, cuja tarefa de educar inclui o acesso à subjetividade e a socialização.
Educar é tarefa árdua e sem garantias, porém é imprescindível que os pais possam responsabilizar-se pelo que acontece a seus filhos. A medicalização, nestes casos, pode ter o efeito de aliviar e apaziguar os pais sem que eles possam ter tempo de se incluir subjetivamente no sintoma dos filhos. O adormecimento frente à possibilidade de uma elaboração dificulta que os pais possam tomar as rédeas da educação dos filhos, ficando somente a cargo do medicamento a incumbência de dosar os déficits ou as hiperatividades.
Sabemos que os sintomas nas crianças revelam o que há de oculto na subjetividade dos pais, que não apareceria se a criança não os encenasse. É na cena de seu sintoma que a criança revela algo que a ultrapassa, que ela desconhece e que lhe causa angústia. No entanto, os sintomas são apelos, sinais de que algo não vai bem, pois precisa ser mostrado e endereçado a alguém. Trata-se de um apelo endereçado aos pais para que possam pela elaboração, se reposicionarem na relação com a criança, já que estão fora de lugar. Portanto, cabe aos pais a tarefa de barrar os excessos nas crianças, pois quando se esquivam de sua função elas angustiam-se.
É preciso que se compreenda que a educação não pode ser terceirizada pela medicina, nem pela escolarização. A medicina e o saber médico, cuja importância e valor são reconhecidos na vida de todos nós, precisam estar atentos para não obturarem a possibilidade de que algum questionamento possa surgir por parte dos pais, cuja elaboração pode reconduzi-los ao lugar que é o deles. A demanda excessiva pela medicalização da infância, em casos onde a palavra poderia oferecer uma elaboração, pode ter efeitos nocivos à subjetividade da criança, pois ela ainda está se constituindo. Assim, podemos concluir que quando faltam limites e leis simbólicos que orientam e interditam, as crianças encenam no corpo a ausência destes limites.
Autor: andreamatv@superig.com.br - Categoria(s): ArtigosTags:

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